Apartamento #020 - Lara H. Monttebello

Acordei cedo pois sabia que seria um dia repleto de atividades. Depois do café aproveite para fazer umas compras básicas no supermercado e farmácia, o suficiente ara me dar dor no braços até o caminho de volta ao flat. Após arrumar as coisas em seus devidos lugares na dispensa, geladeira e armários tomei um banho rápido e me preparei para começar a pintura, tudo muito bem protegido e cuidado. O quarto de hóspedes estava um caos com tantos móveis, mas estava cansada da cor atual.

Ai droga – gritei ao manchar minha blusa da mulher maravilha – Droga, droga, DROGA! – Disse correndo em pequenos pulos pelo chão da sala coberto de jornais até a área de serviço, onde joguei a blusa no tanque e liguei a torneira desesperada, com cuidado para não sair manchando tudo de tinta. Fiz uma cara triste olhando a água diluir a tinta de cor marfim, esperando sinceramente que minha blusa foférrima não ficasse manchada. Arrumei o biquíni que agora era minha única roupa acima da cintura. O shorts já estava bem manchado, mas por sorte era velho. Os pés descalços manchavam todo o jornal espalhado sobre o chão e fixados com fitas adesivas. Olhei ao redor da sala vazia e ainda faltavam muitas partes para pintar naquela sala que parecia muito maior do que quando mobilhada.
Voltei o tanque e a blusa parecia apenas mais manchada. Fiz um bico de frustração e quando terminei de fechar o ciclo de água da torneira ouvi a campainha soar. Fui correndo novamente na ponta dos pés e vi o cabeção de Nishi. Abri a porta sem hesitar e pulei no garoto em um abraço.
- Ai que bom que você veio! Estava precisando da sua mãozinha mesmo! – Desci de seus braços ainda sorrindo e o puxei pela mão para dentro da sala – Eu comecei a pintar, mas mesmo com a escadinha não alcanço todos os lugares, você vai me ajudar não é lindinho do meu coração? – disse olhando para ele com uma cara fofa – Eu tenho uma calça velha do meu pai nas minhas caixas que deve caber em você... Que tal? – sorri de ponta a ponta voltando a ficar mais próxima dele.

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Era bom ter Nishi em casa. Precisava mesmo de uma força e uma altura masculina para me ajudar ali. Não que a presença de Nishi seja boa só nessa hora, simplesmente amo passar o tempo conversando com ele ou apenas passando tempo, exceto vendo filmes de terror. Simplesmente incrível como ele não se assustar com as coisas mais horríveis e ainda achar tempo de rir dos meus gritos, anyway. Soltei o rabo de cavalo e arrumei o cabelo em um coque simples, mas a franja um pouco mais curta teimava a cair sobre os olhos. Sorri ao ele dizer sobre a calça ser velha – Ah, que bom, as calças do meu pai deviam ficar largas demais em você, provavelmente ficaria seminu no meio da sala – Fiz uma pausa para rir da cara que ele fez – Bem, então fique a vontade amore – Sorri simpática indo para o canto da sala ainda na ponta dos pés.

Apoiei-me sobre os joelhos nos jornais cuidadosamente e voltei minha atenção a parede, onde usava finos pincéis para fazer um pequeno art com borboletas e flores. Você pensou mesmo que eu só aprendi a fotografar na faculdade? Sou ótima design e desenhista se me permite a modéstia. Ouvi Nishi voltar do quarto onde havia entrado provavelmente para inspecionar a bagunça que tinha feito. Conseguia escutar seus passos lentos e depois questionar sobre os pincéis – Os materiais estão no canto esquerdo da sala, ao lado da porta da cozinha, não manche nada se não eu mato você! – Disse olhando pra ele com olhar mortal e só então percebendo-o sem camisa. Me perdi por alguns segundos nos desenhos de seu tronco e senti meu rosto corar diante da situação, voltando rapidamente meu olhar para o trabalho que estava a executar. Demorei um pouco até escutar o garoto se mover, devia estar sentado tomando coragem para se levantar como o habitual (sim, os seus desenhos corporais que possui são pura ruindade).

Ao ouvir sua pergunta pensei um pouco antes de poder responder – Olha... Não tem bem um motivo, mas eu quitei as dividas do meu cartão de crédito e resolvi fazer novas, então comprei móveis novos, vão chegar amanhã e aproveitei para mudar tooodo o visual – Olhei pra ele sorrindo e percebendo a atrocidade que ele estava fazendo com meu teto. Revirei os olhos e fui andando calmamente até o outro lado da sala para pegar um rolinho. Em seguida me dirigi até a escada e a subi cuidadosa, até chegar na altura do rapaz, ignorando o fato de estarmos tão próximos e o olhando com a face levemente brava – Caso não saiba honey paredes se pintam com estes rolinhos aqui – Mostrei o rolinho quase enfiando na cara dele, percebendo o quão mais baixa eu era, pois mesmo estando no mesmo degrau que ele meu rosto ficava na altura de seu peitoral inflado, onde eu me firmava com uma das mãos um tanto sem perceber no alto do meu discurso pintadorilistico. Tirei o pincel de suas mãos delicadamente e pus um rolinho no lugar – E se isso causar alguma bolinha siquer no meu teto eu... eu mordo você! – Disse com um sorrisinho no canto dos lábios, tentando olhar pra baixo a procura de um caminho de degraus, mas tudo que eu consegui ver era um caminho virtuoso do abdômen de Nishi e um chão embaçado pelo medo de altura. Voltei o olhar rapidamente para o rosto de Nishi, que tinha um olhar na face um tanto perturbador para meu lado santinho. Me apoiei com a mão direito no braço dele e a mão esquerda em sua cintura, procurando com o pé direito o degrau de baixo, automaticamente o puxando um pouco para o mesmo – Aiin, mee ajuda a descer, por favor. – disse baixinho sentindo um pouco de medo, voltando rapidamente para o degrau anterior e, por um momento, sentindo a ponta de meu nariz em shock com a de Nishi, e então nossos olhares se cruzaram, chamando um ao outro como imãs, deixando meus pensamentos confusos e sem importância. Meus membros afrouxaram e minha pernas vacilaram. A mão deixou o pincel escorregar e ao procura-lo avistei uma manchinha de tinta a baixo do umbigo de Nishi, provavelmente anteriormente em mim – E... Eu... Você... Você está um pouco sujo aqui – Disse quase em sussuro, com um sorriso bobo, travado e timido, voltando o olhar para baixo, sentindo novamente meu rosto corar. Já disse que isso não é normal? O que está acontecendo comigo? Preciso descer agora.

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